A teoria behaviorista é determinada pela analise do comportamento ou comportamentalismo, que é o conjunto das teorias psicológicas que postulam o comportamento como único, ou, ao menos, mais desejável. Os behavioristas afirmam que os processos mentais internos não são mensuráveis ou analisáveis, sendo, portanto, de pouca utilidade e para a psicologia empírica.
O fundamento dessa escola da psicologia é a teoria do condicionamento, elaborada pelo fisiologista russo I. Pavlov no início do século XX e desenvolvida mais tarde por J. B. Watson e B. F. Skinner, psicólogos norte americanos que criaram o paradigma comportamentalista na psicologia.
Uma das propostas de Watson era abandonar, ao menos provisoriamente, o estudo dos processos mentais, como pensamento ou sentimentos, mudando o foco da psicologia, até então mentalista, para o comportamento.
Para Watson, a pesquisa dos processos mentais era pouco produtiva, de modo que seria conveniente concentrar-se no processo psicológico observável, o comportamento. No caso, comportamento seria qualquer mudança observada, em um organismo, que fossem conseqüência de algum estímulo ambiental anterior, especialmente alterações nos sistemas glandulares e motores.
Neste sentido, não se pode deixar falar de behaviorismo sem comentar e acerca das conexões existentes entre o filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, e esta escola de pensamento da psicologia.
No citado filme é criado um ambiente aparentemente distante do nosso, um mundo caótico e sombrio em que Alex, um jovem inglês, e seus “drugues” (gíria originada do russo ‘droogs’, que designa um grupo de jovens delinqüentes), saem pelas madrugadas usando alucinógenos, espancando mendigos idosos e violentando mulheres, entre outros desatinos.
Em uma de duas noites de perversão, o bando comete um homicídio, e um de seus comparsas o trai, o que leva o líder Alex para uma casa de detenção. Condenado a prisão pela morte de uma mulher, o jovem esquiva-se do assédio de homossexuais e da violência dos outros prisioneiros.
Para conseguir um melhor tratamento, auxilia o capelão do presídio nas atividades religiosas. Então, surge a oportunidade de se ver novamente livre em menos de um mês com o novo tratamento do Centro Médico Ludovico, que iria recrutar um dos prisioneiros para servir de cobaia no estudo desta técnica, na qual o mal seria transformado em bem, política essa recentemente adotada pelo governo.
Neste tratamento, Alex é colocado num palco onde se obrigam a assistir cenas de violência inegável sem sequer poder piscar os olhos, que se mantinham abertos à força, sendo molhados com colírio. Mas antes dessas sessões cinematográficas, injetam-lhe um medicamento que lhe provoca insuportável náusea. Assim, ele passa a associar as cenas ao mal-estar físico, neutralizando sua agressividade natural e o transformando num “cidadão modelo”.
Em seu retorno à sociedade, ele encontra todas as suas vítimas, que se vingam dele, que não consegue reagir por causa do seu condicionamento. É espancado por um de seus ex-colegas que se tornou policial e, em seu caminho, cruza com um senhor que ficou paralítico e que teve a esposa estuprada e morta ao serem agredidos por ele.
Neste sentido, fica bem claro no filme que os métodos utilizados pela ciência para condicionar Alex são fruto da escola de pensamento behaviorista. Através da utilização dos filmes, da música, do soro experimental, etc, a violência foi sendo substituída por uma ânsia de vômito, que impedia o protagonista de cometer crimes.
O controle do comportamento social é feito através da técnica Ludovico que, com princípios psicológicos behavioristas de condicionamento, introduz em Alex o mal-estar físico ligado a qualquer comportamento violento.
Ademais, o fator “sexualidade” aparece, geralmente em forma de alusão, em algumas cenas do filme, estando presente de diversas formas na vida do protagonista. Reparamos, por exemplo, na cobra de estimação dele, que em uma das cenas se encontrava enquadrada como se nos órgão feminino de uma das pinturas do quarto de Alex.
Importante frisar que na verdade existiam duas grandes agências controladoras de comportamentos, que são a governamental e a religiosa. Estas compartilham um mesmo método associacionista de controle social, o reforço positivo de condutas “legais” e/ou aprovadas por “Deus” e o reforço punitivo de atos considerados “ilegais”. E o que aconteceu a nosso amigo, cujas ações foram consideradas reprovatórias e demoníacas: a punição.
Por fim, vale apontar que esta obra propõe o questionamento de que para ser preciso estabelecer a lei e a ordem, nesse caso por meio da ciência, é necessário antes de tudo não se deter em questões éticas ou de escolhas morais.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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